A boca como chave da doença

 

Por certo já terá ouvido dizer que “A boca é a porta de entrada de quase todas as doenças”. Eu acrescentaria que além de porta é também a chave. É através da boca que podemos entrar no nosso universo interior particular e descobrir os cantos à casa. O que quero dizer é que, observando a boca com atenção, podemos dar conta da condição em que se encontra a nossa microbiota oral, avaliando o seu equilíbrio e, daí, obter indicações sobre o estado do nosso sistema imunológico e da nossa saúde em geral.

Esta leitura é feita tendo por base uma abordagem integrativa que vê o indivíduo como um todo, interligando todos os seus sistemas: físico, emocional, energético e até espiritual. Assim, as alterações na microbiota da cavidade oral podem dar-nos algumas das chaves de doenças sistémicas, uma vez que a transição de um estado saudável para um estado patogénico origina uma desarmonia em toda dinâmica metabólica.

A desatenção a estes indícios de disfunção oral afeta gradualmente todos os processos associados à boca, seja a mastigação e deglutição, o equilíbrio do periodonto e da gengiva ou a fala e a postura, que por sua vez comprometem aspetos relacionais e de comportamento social. Compreender problemas digestivos, por exemplo, passa por averiguar a forma como se processa a mastigação, que é o momento inicial do processo digestivo, com intervenção da amilase salivar.

 

Problemas cardíacos e vasculares podem também estar associados à presença de bactérias da boca que, originando focos de infeção na cavidade oral, aumentam a probabilidade de propagação dos mesmos ao coração através da corrente sanguínea, com riscos agravados de episódios de enfarte ou arteriosclerose. A inflamação crónica causada por disbiose oral está também na origem de quadros de artrite reumatoide e outras doenças autoimunes. A colonização bacteriana na cavidade oral pode alastrar-se ao tubo endotraqueal e comprometer as funções respiratórias, criando problemas pulmonares.

Por outro lado, alguns problemas metabólicos, como a hiperglicemia, desequilibram a cavidade oral, criando condições para o aparecimento de cáries, periodontites e gengivites. Outro exemplo comum é o da disfunção salivar associada à bulimia, que afeta os níveis de desmineralização, manifestando-se na cavidade oral em situações de queilite angular ou cáries.

Definitivamente, é na boca que podemos encontrar a chave da doença, tendo atenção à persistência de determinadas condições da cavidade oral, à presença de lesões, que devem ser avaliadas em conjunto com outra sintomatologia do organismo para um diagnóstico fidedigno, preciso e atempado. A chave da doença pode muito bem ser a que abre a porta para a cura.

 
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A boca: onde tudo começa