A boca: onde tudo começa

 

Se quisermos saber como está a nossa saúde, temos de estar atentos ao que a boca tem para dizer. É mesmo verdade: a boca é onde tudo começa. Antes de mais, porque ela pode ser a porta de entrada de muitos agentes patológicos. Mas além disso, ela é também um espelho da nossa saúde sistémica. O que quer dizer que tudo o que se passa no nosso corpo se reflete na cavidade oral – e vice-versa.

Neste sentido, o equilíbrio ou desequilíbrio da microbiota oral é um dos primeiros indicadores do nosso estado imunitário e, claro, da nossa saúde em geral. 

Se nos lembrarmos que as respostas imunitárias do nosso corpo são, no fundo, a sua forma de identificar, neutralizar e eliminar agentes patológicos, podemos olhar para uma quebra da imunidade como uma chamada de atenção para um desequilíbrio funcional que pede uma observação mais atenta. 

Se o sistema imunitário não está a conseguir impedir a instalação e colonização da boca por bactérias oportunistas, algo se passa e pode estar a afetar não apenas a saúde oral, mas todo o metabolismo sistémico. O que pode estar a acontecer?

Entre as causas que podem estar na origem da alteração da composição e função da microbiota oral e de um quadro de disbiose  - que nos diz que a flora oral saudável empobreceu, se tornou patogénica e entrou pelo tecido epitelial oral para outras vias sistémica - podemos apontar fatores ambientais ou fatores específicos de cada pessoa.

O stress, algumas dietas, a higiene oral, o álcool, o tabaco ou certa medicação são alguns dos mais frequentes. Mas há também predisposições genéticas e hereditárias – como é frequente no caso da doença periodontal - condições metabólicas alteradas ou envelhecimento.

 

Na minha experiência como médica dentista numa vertente mais integrativa, verifico que boa parte das perturbações orais são reveladoras de outras patologias e que as alterações da boca, que se observam a olho nu, pedem um conhecimento mais detalhado do estilo de vida e hábitos do paciente e, claro, a pesquisa de dados laboratoriais para um diagnóstico verdadeiramente consistente.


Não há como não ver que está tudo ligado e que é essa a beleza da abordagem integrativa. Está estudada a relação entre um déficit imunológico e o aparecimento de aftas ou úlceras, por exemplo. Entre a palidez das mucosas ou a atrofia das papilas linguais e a anemia. Entre a secura da boca – xerostomia – e as diabetes. Entre déficits de vitamina D, fragilidade óssea e do sistema estomatognático que envolve toda a estrutura responsável por funções vitais como a mastigação, deglutição, respiração e a fala.

Os desequilíbrios da cavidade oral têm muito que se lhe diga. É preciso não descurar nem menorizar a sua importância porque podem ser o princípio de um desequilíbrio generalizado do corpo. Médico e paciente têm pela frente a tarefa de recuperar a saúde oral, seja repensando os comportamentos diários, seja estando disponível para aprofundar um estudo mais detalhado da questão que pede atenção. É pela boca que devemos começar.

 
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