Quando a boca cala, o corpo fala
A ideia de que para tratar a doença é preciso tratar o doente, não é nova. Na verdade, é um pensamento que vem de há mais de 2400 anos atrás, pelo legado de Hipócrates, por muitos considerado o pai da medicina. Sabemos que a doença é uma manifestação de algo que está em profundo desequilíbrio na vida do doente. Perceber os seus sintomas e traduzir, de alguma forma, o que eles podem estar a dizer sobre a patologia, é trazer à consciência toda essa desarmonia. E é aí que o papel do médico pode ser determinante.
Através da minha experiência como médica dentista numa vertente mais integrativa, não posso deixar de notar que muitos dos sintomas, desconfortos e patologias da cavidade oral refletem questões da vivência interior do paciente que, por algum motivo, num dado momento da sua vida, se exteriorizam com contornos físicos que podem revelar-se de uma forma mais ou menos preocupante.
Dar voz ao corpo é fundamental, especialmente quando a boca nada diz – seja por não o saber expressar, seja por não ter consciência dos seus conflitos internos ou até por “normalizar” certos lugares de desconforto. Como traduzir então o que o corpo diz? Dentre muitas propostas de leitura, posso destacar a do professor Christian Beyer, investigador na área da Psiconeurodontologia, que avança com uma abordagem extremamente interessante de decodificação dentária.
O ponto de partida desta metodologia é a compreensão dos dentes como pequenos contentores de informação sobre a nossa experiência de vida e de relação com o mundo, desde muito cedo, dos nossos primeiros momentos de gestação. Cada dente guarda uma informação particular que pode ajudar a revelar conflitos psicoemocionais e relacionais que estão na origem de desequilíbrios que se manifestam de forma sistémica e afetam a saúde e bem-estar do paciente.
Descodificar cada dente e, muito em particular a forma como se manifesta na cavidade oral, é aceder à informação que ele guarda, trazer esse conflito à consciência e procurar uma visão diferente que ajude o paciente a ultrapassá-lo e a conseguir, gradualmente, um maior bem-estar.
No fundo, como profissional, sinto que devo transmitir ao paciente a importância de se confrontar com a sua própria bagagem de vida. No momento em há abertura para um maior conhecimento de si próprio haverá também um progresso na recuperação do seu desequilíbrio e doença.
Não posso deixar de lembrar Deepack Chopra quando diz que “podemos mudar a nossa biologia pelo que pensamos e sentimos. As nossas células estão constantemente a bisbilhotar os nossos pensamentos e a ser modificados por eles.” Um paciente que aprende a ouvir o que o corpo fala já está num caminho de maior consciência e também responsabilidade pela sua recuperação oral e pela saúde geral.